ATA DA NONAGÉSIMA SÉTIMA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 08.08.1991.

                                                              

Aos oito dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Nonagésima Sétima Sessão Ordinária da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Nonagésima Sexta Sessão Ordinária, que deixou de ser votada face à inexistência de “quorum” deliberativo. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador Cyro Martini, 02 Indicações e pelo Vereador Leão de Medeiros, 01 Projeto de Lei Complementar do Legislativo nº 33/91 (Processo nº 2052/91). E, ainda, foi apregoado o Projeto de Resolução nº 33/91 (Processo nº 2073/91), da Mesa Diretora desta Casa. Do EXPEDIENTE constaram: Ofício nº 362/91, da União dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul; e Ofício-Cicular nº 1/91, da Associação Brasileira de Centrais de Abastecimento - ABRECEN. Em continuidade, foi aprovado Requerimento do Vereador Artur Zanella, solicitando Licença para Tratamento de Saúde no período de oito a onze do corrente mês. Após, o Senhor Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Martim Aranha Filho, informando que Sua Excelência já prestara compromisso regimental nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, e comunicando que passaria a integrar a Comissão de Urbanização, Transportes e habitação. A seguir, o Senhor Presidente informou que, face a Requerimento, aprovado, do Vereador Antonio Hohlfeldt, o período de Comunicações da presente Sessão seria destinado a homenagear os quarenta anos de fundação do Centro Cultural Vinte e Cinco de Julho, registrando a presença, na Mesa dos trabalhos, do Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara de Porto Alegre, do Vereador Leão de Medeiros, 1º Secretário, dos Senhores Max Breuel, Presidente do Centro Cultural Vinte e Cinco de Julho e Décio Kasper, Presidente do Conselho Deliberativo dessa Entidade e concedendo a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Lauro Hagemann, em nome do PCB, reportou-se sobre a homenagem, dizendo que a cultura não tem partido, sendo um centro tradicional e heterogêneo que abriga diversas etnias. Referiu-se às raízes da colônia alemã, discorrendo sobre a cultura, arquitetura e ensino, prestigiando essa data comemorativa. Saudou os representantes da Entidade presentes nesta Casa. O Vereadores Vicente Dutra, em nome das Bancadas do PDS e PFL, falou sobre a contribuição cultural alemã ao nosso Estado, reportando-se sobre a doutrina social cristã aplicada no início do século e sobre o progresso e exemplo de paz mundial que a Alemanha vem demonstrando. Disse, ainda, que é muito importante a miscigenação de raças que está ocorrendo. Parabenizou os integrantes do Centro Cultural Vinte e Cinco de Julho, bem como o Coral dessa Entidade. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT, PDT, PMDB, PL e PTB, reportou-se sobre sua atuação no Centro Cultural Vinte e Cinco de Julho junto ao Coral, desde seus quinze anos de idade. Discorreu sobre a colonização alemã e etnias aqui existentes, ressaltando sua importância. Falou sobre os vários departamentos culturais que essa Entidade oferece à comunidade porto-alegrense. Congratulou-se com os representantes do Centro Cultural. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Max Breuel que agradeceu a homenagem em nome dos integrantes do Centro Cultural Vinte e Cinco de Julho, falando sobre suas tradições e costumes. Após, o Senhor Presidente agradeceu presença de todos, suspendendo os trabalhos às quatorze horas e cinqüenta e cinco minutos, nos termos regimentais. Às quatorze horas e cinqüenta e três minutos foram reabertos os trabalhos, constatada a existência de “quorum”. Após, o Senhor Presidente declarou empossado na Vereança o Suplente Heriberto Back e, informando que Sua Excelência já prestara compromisso regimental nesta Legislatura, ficando dispensado de fazê-lo, comunicou-lhe que passaria a integrar a Comissão de Educação e Cultura, em substituição ao Vereador Décio Schauren, em Licença para Tratamento de Saúde, conforme Requerimento aprovado no dia sete do corrente. Às quatorze horas e cinqüenta e três minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente encerrou os trabalhos, convidando os Senhores Vereadores para a Sessão Solene, hoje, às dezessete horas e para a Sessão Ordinária amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Leão de Medeiros, e secretariados pelos Vereadores Leão de Medeiros e Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Sobre a mesa pedido de licença do Ver. Artur Zanella, mas não temos “quorum” para votação do Requerimento.

Passamos ao período de

 

COMUNICAÇÕES

 

A Requerimento deste Vereador, o período de Comunicações de hoje será destinado a homenagear os 40 anos do Centro Cultural 25 de Julho. Na Mesa, a participação do Sr. Max Breuel, Presidente do Centro Cultural 25 de Julho, o Sr. Délcio Kasper, Presidente do Conselho Deliberativo, além de uma série de associados e integrantes da direção da instituição.

Por inscrição, iniciamos os discursos pela Bancada do PCB, Ver. Lauro Hagemann; pelo PDS e PFL, Ver. Vicente Dutra, que está com problemas de trânsito; e, posteriormente, este Vereador, encerrando a Sessão, que falará pelas demais bancadas.

Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, Exmos Srs. Max Breuel e Délcio Kasper, do Centro Cultural, demais membros, demais Vereadores. Pode parecer estranho até que um membro do Partido Comunista esteja na tribuna a exaltar os 40 anos do Centro Cultural 25 de Julho. Mas para nós, e para todos, a cultura não tem fronteiras, nem pátria, a cultura é universal, e portanto, nessa dimensão e nessa direção, é que nos congratulamos com os 40 anos de atividade do Centro Cultural 25 de Julho, até porque, como descendente de alemães me sinto de certa forma integrado, embora não permanente, à vida do Centro Cultural, mas reflete um tradição que me é familiar, e é nessa condição que venho a esta tribuna para me congratular com a atual direção, e com todos aqueles que por lá passaram, porque uma entidade dessa natureza preenche, não um vazio, mas um espaço útil, necessário e permanente no concerto de uma cidade como Porto Alegre, que abriga diversas etnias, diversas formações culturais oriundos dos mais variados lugares do mundo. Seria de admirar que não houvesse um Centro Cultural como este que estamos homenageando numa cidade como Porto Alegre, de profundas raízes da cultura germânica. Há toda uma tradição, são mais de 150 anos que Porto Alegre abriga a colônia alemã. Assim como outras colônias também, a colônia alemã, com seu trabalho e seu dinamismo, com as suas origens, seus costumes, com tudo aquilo que é tradicional, que pertence à colônia alemã, para o desenvolvimento da nossa cidade de Porto Alegre. As amostras que significam essa miscigenação significam essa contribuição que estamos aí a ver nas coisas materiais e nas coisas imateriais.

É por essa razão que Porto Alegre se sente agradecida a essa colaboração, prestigiando os 40 anos do Centro Cultural 25 de Julho, como uma data local, nossa, a qual já faz com que Porto Alegre se sinta uma Cidade cosmopolita junto com outros centros, de outras etnias, de outras origens culturais. Assim, o Centro Cultural 25 de Julho tem o seu papel destacado na vida desta Cidade. Esperamos, sinceramente, que esta data de 25 de julho continue para que a Cidade possa continuar recebendo essa contribuição, que é do natural agrado da Câmara de Vereadores, que é a representação de toda essa heterogeneidade cultural, social, política, econômica que co-habita a nossa Cidade.

Meus parabéns e que outros aniversários possam ser comemorados com o mesmo brilho e a mesma eficiência! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vicente Dutra, que falará em nome do PFL e do PDS.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, Sr. Max Breuel, Presidente do Centro Cultural 25 de Julho, Sr. Délcio Kasper, meu companheiro do Rotary e Presidente do Conselho Deliberativo, Ver. Leão de Medeiros, Srs. Vereadores, amigos simpatizantes integrantes do Centro Cultural 25 de Julho, que hoje está sendo homenageado, nessa Casa. Depois do brilhante pronunciamento do Ver. Lauro Hagemann, legítimo representante da comunidade alemã dessa Cidade, que é a maior etnia de Porto Alegre, realmente é a comunidade alemã, e das colocações feitas por S. Exª sobre a contribuição do alemão no Brasil, particularmente na nossa Cidade, acho que pouco resta a dizer sobre o nosso 25 de Julho. É uma entidade realmente muito simpática dentro do contexto cultural e social de Porto Alegre. E muito devemos aqui, em Porto Alegre, o desenvolvimento e a animação cultural dessa Cidade, particularmente ao Coral 25 de Julho, a quem essa Casa tem uma forma muito especial de carinho. Temos a honra de termos um Presidente que foi integrante desse Coral, Ver. Antonio Hohlfeldt, que tem sido um incansável divulgador das coisas boas do nosso 25 de Julho, e tem orgulho disso. E sinto, até, uma ponta de vaidade muito arraigada no Vereador, por ter pertencido - e é uma vaidade muito justa - a este Coral 25 de Julho. Eu há pouco escutava a palestra do Antonio Damico, da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa, e ele relatava o encontro do qual ele participou na Alemanha sobre a doutrina social cristã, numa cidade que não recordo o nome, uma cidade medieval, e ele relatava a contribuição do alemão no desenvolvimento político do mundo. E, uma curiosidade, as aplicações doutrinárias de doutrinas sociais e cristãs já eram aplicadas desde o início do século. E com tudo o que a Alemanha passou, por duas guerras que trouxeram enormes prejuízos àquela Nação, ainda assim hoje a Alemanha dá um exemplo de desenvolvimento e de progresso e, sobretudo, de difusão da paz. Paz que ela está comprando agora, graças ao seu grande progresso e que está fazendo com que o Leste Europeu vá seguir o seu rumo, na mesma orientação direta da Alemanha. Nessa mesma Alemanha a qual os seus descendentes fundaram aqui essa instituição e que a desenvolvem com garra, entusiasmo em prol da comunidade alemã e de toda a Cidade.

Faço destaque também ao grupo de idosos que é comandado pela Srª Elly Kohlmann, cidadã de Porto Alegre, por um ato de justiça desta Casa, por proposta do Ver. Antonio Hohlfeldt, e que desenvolve aquele grande trabalho. Eu tenho conhecimento de causa e por isso posso dizer. É raro o grupo de idosos neste Estado que eu não conheça. Conheço muitos do Brasil também, e o Raio de Sol é o melhor de todos que nós temos aqui no Rio Grande do Sul. Se não houvesse tantos motivos para homenagear o Centro Cultural 25 de Julho, teríamos esse de que ali abriga uma grande experiência de congregação de pessoas da terceira idade. E como nós sabemos aqui, no Brasil, que é um País de contrastes, considerado o País do amor, da confraternização, da miscigenação de raças, e realmente nós temos muito disso. Mas, no tocante ao idoso é um dos países que mais segrega a terceira idade, talvez porque seja um País de pessoas jovens, há uma diferença muito grande entre os jovens e faixa etária da terceira idade. Então o idoso é segregado para não dizer rejeitado.

Então, é importante que os clubes, como o 25 de Julho faz, propiciem este encontro entre as pessoas, para que ali possam se encontrar. E nesse encontro se sintam bem, divulgando uns para os outros as culturas, as suas referências do passado, contem a sua história. Ali, pelo menos, sempre terá alguém que os ouça, num clima festivo.

Meus parabéns, meu caro Presidente Max Breuel e Délcio Kasper, Presidente do Conselho Deliberativo, assim como aos demais integrantes do Centro Cultural 25 de Julho, por esse extraordinário apoio que é dado ao idoso e ao Coral 25 de Julho, bem como a tantas outras atividades que ali se desenvolvem, que presenteiam a nossa Cidade. Que a nossa Cidade possa, nos 80 anos, novamente continuar prestando essas homenagens, repetidas vezes aqui. Sei que outras serão ainda prestadas, mas que possamos nos 80 anos dizer novamente: “muito obrigado” Centro Cultural 25 de Julho pela contribuição cultural e social que faz, e nós, outros da Cidade, credores por tudo que é desenvolvido por essa louvável instituição.

Meus parabéns! Que seja seguida essa senda de desenvolvimento e de atenção à comunidade, é o que nós, da Câmara de Vereadores, desejamos! Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Leão de Medeiros): Tem a palavra, para falar em nome do PT, PDT, PMDB, PTB e PL, o nobre Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente dos trabalhos, 1º Secretário da Casa, Ver. Leão de Medeiros; prezado amigo Max Breuel, Presidente do Centro Cultural 25 de Julho; meu caro Délcio Kasper, Presidente do Conselho Deliberativo; Srs. Vereadores, associados do Clube; fundadores do Centro Cultural; muito especialmente aqueles que, da minha geração, fundaram o Coral Misto e vivemos, diria, um período áureo no Centro Cultural, porque foi o que definiu os andamentos, e hoje somos os que dirigimos, de certa maneira, em parte, o futuro do Centro Cultural 25 de Julho. Quero me referir especialmente ao companheiro Genésio Kerbes, que hoje responde pela Direção do Hospital Moinhos de Vento, e que tem também a sua história; ao Arlindo Malmann, que nos últimos anos tenho encontrado, muitas e muitas vezes no CPM do Colégio São João, ao Habdri Kollmann que é, antes de tudo, um irmão, porque fomos os que mais convivemos no dia-a-dia do Centro Cultural 25 de Julho. Eu entrei para essa entidade com 15 anos de idade; lá fiquei quase outros 15; isso significa um período para todos nós especialmente importante. Para os Srs. Vereadores terem uma idéia da importância do que pode ter sido o 25 de Julho, não apenas para mim, mas para todos companheiros de geração, por certo, a primeira vez que saímos a viajar fora do Rio Grande do Sul, a primeira vez que saímos para fora do Brasil, a primeira vez que entramos num avião e chegamos na Europa, a primeira vez que gravamos um disco e, pela cara do Genésio, provavelmente a primeira vez que namoramos, foi tudo dentro do 25 de Julho. Isso forma, sem dúvida nenhuma, uma amizade, uma relação, um carinho e uma identidade. E acho que isso traduz, por isso me senti honrado pela fala do Ver. Vicente Dutra que, de uma certa maneira, tem sempre aqui trazido notícias da colônia italiana neste Estado, porque o Ver. Vicente Dutra, como eu, sabemos da importância dessas instituições, dessas tradições na formação da cultura deste Estado.

Todos os Senhores sabem que os alemães que para aqui vieram, nas primeiras décadas do século passado, com promessas muitas vezes mentirosas, falsas, sem grandes apoios, vieram para trabalhar a terra, para desbravar o espaço, para ocupar áreas e, sobretudo, para uma missão que talvez pouco ética fosse, de branquear o país, de acabar com o índio, sobretudo no Estado de Santa Catarina, na área de todo Vale de Blumenau e, sobretudo, de evitar que a presença do negro se alastrasse neste País. Pois esses imigrantes fizeram bem mais do que isso: tiveram a capacidade de enfrentar a mata, de ocupar os espaços e de transformar esta terra talvez até certo ponto inóspita, numa produção de riquezas.

O Ver. Clovis Ilgenfritz, que vem lá da região de Ijuí, o próprio nome o trai. Se pegarmos a nominata dos nossos Vereadores, aqui, inclusive o Ver. Lauro Hagemann, que me antecedeu, também claramente identifica a sua origem, provavelmente a maioria dos Vereadores desta Casa, e não vou mencionar o Ver. João Dib, que tem uma outra herança extremamente importante na sua origem que é lá do Oriente, que nós ainda tão pouco conhecemos, mas que, sem dúvida nenhuma, tem uma importância enorme na colaboração da nossa formação de etnia e de cultura.

Pois é isso que eu queria, nesta homenagem, meu querido Max Breuel, relembrar aqui. De uma certa maneira cada um de nós, Vereadores, temos as nossas relações políticas, partidárias, sociais, dos grupos de entidades de moradores, dos grupos sociais e, eu, em função de estar este ano na Presidência da Casa, tenho visitado muitas entidades que conhecia apenas de nome.

Hoje, queria falar um pouquinho desta, que é a minha entidade, queria me permitir isso já que o Plenário me deu essa licença ao aprovar esta Sessão. Queria relembrar sobretudo que o Centro Cultural 25 de Julho, como instituição, não é o único em Porto Alegre. Os Senhores devem estar acompanhando, o Prefeito Elói Zanella, da Cidade de Erechim, criou um centro cultural e ali está o nome do 25 de Julho, dentro da tradição daquela área. Lembro-me de que nos primeiros anos do nosso Coral, quando dois ou três companheiros íamos como batedores, aí pelo mês de setembro, outubro, viajando pelo interior do Rio Grande e de Santa Catarina, viajando para preparar as excursões que fazíamos sempre, entre janeiro e fevereiro, descobrimos centros culturais por todo esse interior. Lembro-me de Panambi, Selbach, Carazinho, São Luiz, Cerro Largo, chegávamos aos extremos deste Estado, atravessávamos fronteiras, entrávamos Paraguai, Uruguai, Argentina a dentro, às vezes viajando pela madrugada com a poeira colada em todo o mundo, chegando, por vezes, de madrugada e já nos preparando para, no outro dia pela manhã, fazermos o espetáculo, visitarmos uma escola, nos apresentarmos em algum festival que reunia grupos diferentes. Não satisfeitos com o coral, inventamos um grupo de danças, e um grupo de danças que não marcava, e não guardava apenas as danças folclóricas germanas como, também, as danças alemãs. Com isso, atravessamos primeiro a fronteira do Rio Grande, em 1972, indo até o Rio e São Paulo, gravando o primeiro disco; depois atravessamos a fronteira do Brasil na direção da Argentina e do Uruguai e, enfim, conseguimos atravessar o Oceano Atlântico e chegamos até a Alemanha. E aí, uma experiência que marcou a todos aqueles que, como eu, tiveram aquela primeira e pioneira oportunidade, na tradição desse tipo de grupo, que vale até hoje, também para os grupos alemães que chegam no Brasil, em Porto Alegre, não ficávamos hospedados em hotéis ou isolados em algum lugar, ficávamos em casa de família. E ali fomos descobrindo, na emoção dos velhos alemães, talvez alguns até com experiências históricas extremamente controvertidas, porque a maioria deles já havia passado pela experiência da II Guerra Mundial, pelo que significou esta luta, também, entre irmãos dentro da Alemanha. Nos primeiros momentos, eles se emocionavam, porque estavam ouvindo uma língua e uma cultura, que, de uma certa maneira, desaparecera no seu próprio País. E nós éramos capazes, o nosso Coral, o nosso grupo, de devolver a eles aquilo que a Alemanha moderna, pós guerra, havia de uma certa maneira abandonado, até por pressões de quem perdera e de quem sofrera ocupações múltiplas de que Berlim, até há pouco tempo, era bem o exemplo do seu significado.

Isto foi coisa que marcou nós, nos nossos 18 ou 20 anos de idade. Nós cultivávamos o dialeto Unsrück, nós cultivávamos as canções, e ainda cultivávamos um mínimo de futuro que, talvez, de uma certa maneira a Alemanha já perdera, e sobretudo, a Alemanha já perdera através dos seus jovens, e esses jovens não queriam ter isso. Esses jovens negavam estas raízes. Isto foi um aprendizado para todos nós, um aprendizado que valeu para valorizar as nossas coisas, para entendermos o quão importante era não ficarmos na monocultura portuguesa, açoriana, alemã ou italiana, mas juntarmos isto tudo. E, assim, como temos tido aqui a homenagem à cultura negra, dos nossos escravos que chegaram em situações tão terríveis de sobrevivência, assim como temos tido aqui as homenagens aos italianos, aos poloneses, e tenho certeza de que teremos, algum dia, homenagens à comunidade japonesa, assim como temos tido homenagens à comunidade israelita, à palestina e árabes, em geral.

Sinto-me satisfeito por hoje homenagearmos o Centro 25 de Julho, cujo aniversário se comemorou ontem, seus 40 anos, fundado que foi em 1951. Que possamos também homenagear a comunidade alemã como um todo. Num processo longo que veio lá do meio do mato, literalmente, e veio de uma experiência que hoje o Rio Grande do Sul vive dolorosamente, que é a expulsão dos seus filhos pela pátria. É isto que devemos lembrar. Tal qual o Rio Grande do Sul hoje expulsa seus filhos, curiosamente e sintomaticamente, tristemente, os seus filhos que são herdeiros de alemães, italianos e poloneses, que já foram uma vez expulsos, nesta terceira ou quarta geração, vamos ver de novo este drama de termos sido expulsos da Alemanha, de termos sido expulsos da Itália, Polônia, por falta de terra, por falta de alimentação para os filhos. E, hoje, estarmos aqui, termos encontrado uma Pátria, mas, de repente, sofrermos eventualmente de novo o perigo da expulsão, através de todo esse processo dos colonos sem-terra que vivemos por aí.

E, da mesma forma, Sr. Max Breuel, amigos, Srs. Vereadores, de que nós queremos marcar isso com esse espírito muito realista de uma homenagem, mas não de uma mistificação falsificada de uma homenagem, mas de uma lembrança das contradições que também vivemos.

Eu queria registrar a importância de uma outra experiência que estamos vivendo, nesse ano, que é o desenvolvimento de cursos de língua alemã, também em nível de formação primária, em Porto Alegre, através do Colégio Pastor Dohms e através da instituição formal de uma escola com alfabetização em alemão. Não faz mal para ninguém saber mais de um idioma, muito antes pelo contrário, eu lamento não ter sido alfabetizado, além do português, também no alemão. E tenho inveja, às vezes, porque teria me facilitado muitas coisas, em muitas ocasiões, saber o alemão. De qualquer maneira avançamos e as nossas crianças, aquelas que quiserem, que os pais tiverem essa visão, poderão fazê-lo. E o Centro Cultural 25 de Julho também tem essa presença com seus corais, o Coral misto, que hoje é um dos melhores corais deste País. Sem gauchada, não é Max? E o nosso Coral masculino, que tem uma história fantástica, já foi lembrada aqui pelo Ver. Vicente Dutra, o Raio de Sol, que é um espaço muito importante, a nossa orquestra infantil que forma as crianças no instrumento musical. E temos hoje uma belíssima orquestra, a biblioteca, enfim, tantos espaços, tantas coisas que o Centro Cultural traduz, mas que se resume numa única palavra: o espírito da coletividade, o espírito da união.

Era isso que nós queríamos homenagear, hoje, aqui na festa do 25 de Julho. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Falará em nome da entidade o Sr. Max Breuel.

 

O SR. MAX BREUEL: Exmo Sr. Presidente da Câmara de Vereadores, Sr. Antonio Hohlfeldt; Exmos Srs Vereadores; meus amigos presentes aqui, do Centro Cultural 25 de Julho; demais pessoas presentes. É uma honra para a nossa sociedade sermos homenageados, hoje, aqui, na Câmara de Vereadores, e quero apresentar os meus agradecimentos para com este feito tão inesperado, porque 40 anos de uma sociedade são quatro décadas de luta, de trabalho, de trabalho, não apenas da cultura alemã, como nós também estamos, hoje, praticando a cultura brasileira, principalmente a gauchesca através dos nossos grupos culturais, nas grandes viagens que fazem para fora das fronteiras do Brasil, principalmente. O nosso Coral 25 de Julho, Coral misto, já fez cinco viagens neste período para a Europa e o Coro masculino esteve lá, há dois anos atrás, com bastante sucesso e obtivemos, os dois grupos, excelentes críticas justamente da imprensa alemã. O que eles apresentaram lá fora? Não foi apenas o que eles receberam de herança dos antepassados, não, eles mostraram, também, lá fora, o que é a segunda pátria para eles, no caso o Brasil, e propriamente dito o Rio Grande do Sul, os Gaúchos. Eu estive com o Coro masculino, em 1989, na Europa e a segunda parte da nossa apresentação foi justamente sobre a nossa cultura, aqui, do Rio Grande do Sul. Era uma coisa completamente desconhecida para eles lá fora e adoraram as nossa músicas, as nossas danças e, inclusive, o ponche e a pilcha que levamos junto, que era algo fora do comum.

Então, nós cultivamos, hoje, não apenas as tradições germânicas que recebemos de herança dos nossos antepassados. Sim, isso é tarefa número 1, mas estamos empenhados em difundir a cultura brasileira além das fronteiras brasileiras.

Nós temos, além dos corais o grupo de dança Raio de Sol, também grupos de danças folclóricas, departamentos de lazer, como para prática de esportes, futebol de salão, bolão, piscinas, etc. Muitos dos senhores já conhecem a nossa Sociedade e esses que ainda não a conhecem, quero apresentar, hoje, aqui, o meu convite a comparecerem um dia quando tiverem disponibilidade, na nossa Sociedade que, com muito orgulho e muito prazer, vamos mostrar todas as dependências aos Senhores e as respectivas esposas.

São 40 anos! Não é o fim! Tem um provérbio brasileiro que diz que a vida começa aos 40. E espero que seja assim também para a nossa Sociedade. E que tenhamos mais 40 anos pela frente, com tanto sucesso como o que tivemos até hoje. Inclusive os meu antecessores, na Presidência da Sociedade, que se empenharam em prol da causa, e esses que vêm depois de mim e que terão uma tarefa muito árdua pela frente também, porque uma sociedade com 40 anos de idade apresenta, evidentemente, muitos problemas em forma de manutenção dos bens existentes, principalmente prédios e, hoje em dia, nesta época de crise em que vivemos, isso não é uma tarefa muito fácil.

Mais uma vez, muito obrigado pela Sessão Solene de hoje e até uma próxima vez.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós queremos agradecer a presença dos Senhores integrantes do Centro Cultural 25 de Julho, a presença do Dr. Max Breuel, do companheiro Délcio Kasper.

Nós suspendemos os trabalhos por dois minutos para as despedidas dos nossos convidados e, após, retomaremos a nossa Sessão.

 

(Suspendem-se os trabalhos às 14h51min.)

 

O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt - às 14h53min): Reabrimos os trabalhos. Inicialmente, daremos posse ao Suplente Ver. Heriberto Back, que assume no lugar do Ver. Décio Schauren, licenciado no dia de hoje e amanhã, por motivos de saúde. A licença já foi votada no dia de ontem, e o Ver. Heriberto Back assume na Comissão de Educação e Cultura. Já tendo prestado compromisso regimental nesta Legislatura, fica dispensado de repeti-lo, na oportunidade.

Requerimento do Ver. Artur Zanella, solicitando quatro dias de licença de saúde, a partir de 08 de agosto, conforme atestado médico. Parecer do Ver. Clovis Ilgenfritz pela legalidade e regimentalidade do Requerimento. Em votação o Requerimento. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

Convocamos e empossamos o Ver. Martim Aranha Filho, Suplente pela Bancada do PFL, no lugar do Ver. Artur Zanella. O Vereador se encontra em Plenário e ocupará a Comissão da CUTHAB, neste período, já tendo prestado compromisso regimental, fica dispensado de repeti-lo, com base no parágrafo 2º art. 5º do Regimento Interno.

Não havendo mais inscrições para tempo de Liderança, encerramos os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 14h53min.)

 

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